Uma joalheria que está lapidando uma marca
- Valerya Abreu
- 22 de ago. de 2016
- 4 min de leitura
No Brasil desde 2009, por aqui o desafio da Pandora é superar a resistência à prata no mercado de luxo, um aspecto cultural do País
A história começou em 1982, quando um ourives e sua esposa, dinamarqueses, abriram uma pequena joalheria na cidade de Copenhagen, importando da Tailândia suas peças. Em 1987 contratam o seu primeiro designer e entram definitivamente para um mercado requintado e concorrido, competindo com a estrutura e a tradição das grandes marcas desse segmento de luxo. O negócio foi indo e cresceu, mas só em 2000 eles perceberam que precisavam de uma marca para chancelar seus produtos. Nascia assim a Pandora e de lá pra cá o que se viu foi a construção de uma marca de forma muito bem orquestrada, um negócio que saltou de uma pequena iniciativa familiar para um empreendimento que hoje tá presente em diversos países. A empresa hoje produz na Tailândia, e toda a sua produção está destinada a um target global de mulheres na faixa etária predominantemente de 25 a 48 anos
A acirrada disputa travada nesse mercado de luxo conta com empresas que carregam uma longa história, é o caso de marcas como Cartier e Tiffany & Co, que lideram o mercado no global. Mas para uma marca menos tradicional, é preciso ousadia para entrar e se estabelecer, hoje estando entre as principais do mundo em percepção da marca. A CEO no Brasil, Rachel Maia, esteve em Fortaleza para participar do evento Maxi Moda e contou alguns dos pulos do gato dessa empresa.
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A Pandora é uma marca ainda muito jovem, foi criada em 1982 na Dinamarca e hoje já é percebida como uma grande marca. De onde veio a força que ela conquistou tão rápido?
A Pandora é sim relativamente nova e em todo o mundo joalheria significa tradição, joalheria significa continuidade, significa ser atemporal e 34 anos não significa ser atemporal, mas a Pandora se diferencia porque ela trata do individual, ela capta a emoção de uma mulher no seu pulso (referindo-se aos charms, produto da marca), como um porta retrato, um lego de adulto.
No início das atividades da joalheria a marca ainda não estava criada e ela não tinha nome, a marca Pandora foi surgir em 2000, certo? Você considera que a definição da marca empoderou o negócio a partir daí?
Eu não tenho dúvida, a Pandora é hoje uma luxury brand, expensive, mas não 'so expensive'. Hoje ela é a segunda marca mais reconhecida do mundo, (atrás da Cartier e à frente da Tiffany's ), e ela é reconhecida pela sua qualidade. E isso também traz confiança de falar da marca.
De que forma a Pandora considera questões como sustentabilidade, uma vez que o lançamento de novos produtos é mandatório para o negócio e torna o consumo efêmero e movido pela novidade?
A Pandora acredita em sustentabilidade, tá no seu DNA, não é uma questão de marketing, para a mídia ver, mas um homework pra gente fazer todo dia. Um desafio.
Qual o recurso mais importante para uma companhia competir e ser relevante?
Qualidade. E saber usar os recursos que ela tem. É preciso ter as pessoas certas e investir nelas. E olhar para o mindset global.
E o que uma empresa não pode perder de jeito nenhum: tempo ou dinheiro?
Sem nenhuma demagogia, dinheiro. Mas para não perder dinheiro uma empresa tem que estar com as pessoas certas. Get the right people in the bus, sabe? É preciso acertar ai, ter as pessoas certas, que dão o seu melhor e que tem sua agenda pessoal. Pessoas fazem a empresa não perder dinheiro.
Contar uma história é importante para uma marca e o principal produto da marca Pandora, a pulseira com charms, estimula as mulheres a contar suas histórias. Essa grande sacada foi por acaso ou estrategicamente pensada?
Sensacional. O DNA da marca Pandora é o design. E ela se apoderou muito do layout escandinavo, que em si já é uma marca, e absorveu muito bem ele. E Isso não é pra qualquer um. Isso é sacada pra poucos.
O que seria hoje o maior desafio para essa marca atingir e, de forma especial, para você que está à frente desse mercado aqui no Brasil com tantas particularidades?
Eu sou uma pessoa movida a desafios, quando eu soube que eu tinha que fazer dessa marca um sucesso num lugar que tinha resistência à prata como uma joia, eu aceitei o desafio. E o meu maior legado será conseguir atingir um objetivo de trazer um novo conceito de joia. E isso eu considero que é até muito maior que marca.
Um CEO para entregar resultados, com tanta competitividade em todo o mundo, deve ser mais gestor, líder ou inspirador?
Indiscutível. Eu tenho muito a fazer. Eu ando no escritório todo dia, eu converso, eu pergunto, eu procuro trazer essa questão da pessoa para bem perto. E esse é um caminho global, se vocë não sair do coercitivo, daquele que manda, pode dar certo por mais 10 anos, mas tá fadado ao fracasso. É arcaico. Eu não sei se eu inspiro, mas eu tenho que fazer tudo virar verdade. Nossa missão é ser a joalheria mais amada e fazer o sucesso da marca no Brasil. No ano passado tivemos um crescimento de dois dígitos.
Dada a importância da atividade para o negócio, você se considera também um executivo de marketing?
Fantástico. Sem dúvida nenhuma sim, eu tenho que fazer acontecer.
Qual o maior desafio dessa marca que hoje movimenta bilhões de euros, gerir pessoas, gerar resultados financeiros ou promover inovações?
Pra mim o maior desafio é encontrar aqueles talentos que são resilientes, que enfrentam com resiliência as questões difíceis, os desafios. Encontrar essas pessoas não é tarefa fácil. Mas eu aposto nas pessoas.
E o que é mais relevante atualmente para o Brasil conquistar , você que atua no segmento de luxo num país que tem ainda outras prioridades? Abrir horizontes para essa globalização, incluso o luxo. Acho que não se pode perder a esperança, mas para isso você tem que estar aberto ao novo e o que é novo para você não necessariamente é para mim. É preciso abrir horizontes.
Jornalista Valerya Abreu
Entrevist

a publicada no jornal Diário do Nordeste
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